16 filmes que merecem ser lembrados no dia mundial do combate contra a LGBTfobia 🏳️‍🌈

Em 17 de maio de 1990 a OMS deixou de considerar a homossexualidade como um tipo de doença, desde então, essa data se tornou um lembrete mundial para o combate contra as inúmeras formas de violência que toda a comunidade LGBTQIA+ sofre diariamente. Conseguimos muitas coisas mas a estrada pela frente ainda é longa. O Brasil, por exemplo, há mais de dez anos está no topo dos lugares onde mais se mata LGBTQIA+ por ano e as formas são das mais diversas mas sempre muito cruéis e obviamente tristes. Vão de assassinatos a suicídios. Pouquíssimo se vê sobre esses acontecimentos nos principais jornais / portais mas é bem real e bem desolador pois, em grande escala ou de forma mainstream, nada realmente é feito e é por isso que essa data é tão importante e não pode ser passada em branco. Seja num pequeno blog como esse ou no Instagram de uma pessoa pública com trilhões de seguidores. Precisamos de todos e todas. A única forma de diminuir o preconceito é combatendo a ignorância e naturalizando todas as formas de amor. 

Nessa seleção tentei escolher filmes que mostrem principalmente as lutas internas e externas que qualquer LGBTQIA+ pode se identificar e mais importante ainda: filmes que de alguma maneira, como espetáculo audiovisual, possa tocar outras pessoas e quem sabe isso não se transforme em um convite para a reflexão sobre o tema. Não queremos privilégios, não somos diferentes, somos todos iguais e igualdade e respeito é o que buscamos. Revi muita coisa e chegar nessa lista foi bem difícil por que com certeza devo ter deixado algum filme de fora, tentei fazer uma lista pequena pra coisa toda não ficar cansativa, mas... 

Sentiu falta de algum filme? Não curtiu a seleção? Conta aí pra mim.

Os filmes estão em ordem alfabética e A LUTA É DIÁRIA! 🏳️‍🌈 ✊🏻

120 Batimentos Por Minuto (2017)
Através da rotina da filial francesa da ACT UP no início da década de 90, que, pra quem não sabe, é uma organização que começou em Nova York mas que se tornou mundial e luta pela melhoria na vida das pessoas soropositivas, o filme mostra como o grupo discutia e organizava suas manifestações e mostra de forma bastante interessante a relação dos ativistas com pessoas importantes da indústria farmacêutica por exemplo. Enquanto lutavam não só pela vida de um grupo, mas contra uma doença, já que nessa época já se sabia que o vírus não era exclusivo dos gays e pouco, ou nada, se fazia para a conscientização das pessoas, lutavam pelas próprias vidas. O filme também é carregado de diálogos interessantes que convidam o espectador a refletir sobre a luta LGBTQIA+, AIDS, preconceito, relacionamentos, enfim... filmaço. Disponível no Globoplay.

A Morte e a Vida de Marsha P. Johnson (2017) 
Marsha P. Johnson era uma das caras e vozes do início da luta a favor dos direitos gays. Negra e travesti não se intimidava em ser o que era e lutar pelos seus direitos e os direitos dos seus "irmãos e irmãs", como disse várias vezes. Marsha foi encontrada morta em 6 de Julho de 1992 e até hoje seu falecimento é um mistério. O filme começa com o desejo de dar um fim a essa história em aberto e através da história da Marsha vemos como a comunidade de travestis e trans é a minoria das minorias e, consequentemente, a mais sofrida e mais marginalizada. O filme conta uma história de 1992, é de 2017 mas ainda é completamente atual. Destaca-se no filme a figura de Sylvia Rivera, amiga e companheira de luta da Marsha e uma sobrevivente. Disponível na Netflix.

"Amor Por Direito" (2015)
Baseado numa história norte americana real de 2006, esse filme mostra a saga da policial Laurel Hester que após descobrir câncer nos pulmões queria que, na sua eventual morte, sua pensão fosse destinada a sua companheira Stacie. O filme mostra além do conservadorismo homofóbico das autoridades o entendimento que Laurel vai tendo de como é importante buscar por direitos iguais.  Ao ver que, após 23 anos de serviços prestados, sua companheira (elas tinham união estável), esposa e melhor amiga ficaria sem direito a nada enquanto companheiras, esposas e melhores amigas de qualquer outro (a) policial hétero quando morto, tem esse direito, fez Laurel despertar. Qual a diferença? Esse foi um dos filmes que precisei rever porque lembro que da primeira vez que o vi achei bastante fraco. Nessa segunda assistida achei um pouco melhor. Além das questões envolvendo o casal protagonista, o entendimento da Laurel na busca por igualdade e como nós gays também precisamos da ajuda dos héteros nessa luta, me fez achar que o filme merecia ser lembrado. Disponível no Prime Video.

Boy Erased: Uma Verdade Anulada (2018)
Jared é convencido pelos pais a frenquentar uma espécie de igreja/internato para se curar da homosexualidade. Com o tempo e as constantes violências psicológicas e físicas que sofre e vê seus colegas sofrendo e, ao mesmo tempo que, relembra seu passado "pecaminoso", Jared começa a entender que praticando e pregando ódio apenas mais ódio, traumas e tristezas podem resultar disso. Além desse "estalo" de Jared, que percebe que não precisa ser curado de nada, o filme também mostra de uma forma bastante interessante como a mãe, gradualmente, vai entendendo e aceitando o filho e como Jared começa a abrir um diálogo com seu pai para que o preconceito seja quebrado. 

Direito de Amar (2009)
George perdeu seu companheiro de anos em um acidente de carro recentemente e vivendo seu luto resolve se suicidar. Ele fica sabendo da morte do amado através de uma ligação de um primo, que entra em contato escondido do restante dos parentes. "Educadamente" é convidado a não comparecer ao funeral pois o mesmo será apenas para "pessoas da família". Até sua melhor amiga de anos o questiona sobre o seu relacionamento com o amado. George é a síntese do gay que não pode (o filme se passa na década de 60 e ele é professor universitário) ou não consegue (teria ele coragem de enfrentar seus vizinhos que já o acham afeminado?) sair do armário e esses turbilhão de sentimentos se torna um peso enorme demais de se carregar.  

Laerte-se (2017)
Nesse documentário acompanhamos conversas, depoimentos, entrevistas do cartunista brasileiro Laerte e como foi seu processo até se descobrir uma mulher trans. O interessante e ponto forte do filme são as reflexões da Laerte que provocam reflexões também no espectador. Seu neto por exemplo, o chama de avó. E tudo bem pra todo mundo. Laerte está em construção e mantém a mente aberta para que os outros também tenham seus processos facilitados. Em determinado momento ela também fala como há preconceito dentro do próprio meio LGBTQIA+ e como isso acaba sendo desagregador. É daqueles filmes que merecem ser vistos mais de uma vez. Bastante provocante e interessante. Disponível na Netflix.

"Meninos Não Choram"(1999) 
Passado no início da década de 90, onde identidade de gênero e ser e se identificar como uma pessoa trans era um tabu total, o filme mostra a busca, quase que desesperada, por aceitação e amor de Brandon. Após aparentemente ter encontrado, em uma cidadezinha pequena, pessoas que o aceitam como ele se apresenta, Brandon se sente confortável e por ali vai se estabelecendo. Até todos descobrirem que Brandon nasceu Teena Renae Brandon. Baseado em uma história real o filme mostra como a ignorância é uma das maiores armas da homofobia. Educação sexual inclusive. Brandon quando consegue falar sobre seus sentimentos não consegue explicar realmente o que sente e a forma como antes de ser morto foi estuprado por seus algozes é algo para ser bastante refletido. É um filme extremamente forte mas muito importante.

"Milk: A Voz da Igualdade" (2008)
Harvey Milk foi o primeiro homem abertamente gay a conquistar um cargo público no estado da Califórnia e o filme mostra um pouco dessa trajetória. Sua entrada na política e suas conquistas foram aos poucos e a lição que ficou foi a de agregar. Milk foi, com seu jeito bem humorado, conquistando pessoas e mais pessoas para lutar a favor dos direitos dos LGBTQIA+ e provar que não somos aberrações ou qualquer adjetivo do tipo. Um dos momentos altos do filme é quando Milk precisa enfrentar uma grande quantidade de religiosos que usaram a religião para diminuir, criminalizar e demonizar os gays. A forma como Milk foi morto foi extremamente cruel, triste e também um reflexo da homofobia. Seu legado segue até hoje. É um filme obrigatório para qualquer pessoa. 

"Moonlight: Sob a Luz do Luar" (2016)
Esse filme já entrou pra história por ser o primeiro filme com temática gay a ganhar o Oscar de melhor filme em 2017. Ok, para alguns isso não significa muita coisa mas a real é que significa muito sim. Homem, negro e gay. Divido em três partes: infância, adolescência e vida adulta, o filme mostra como Little, apelido de criança, mesmo sem saber o significado da palavra "gay" sofre com com o preconceito dos colegas da escola que o perseguem pelo seu jeito e como ter pessoas que acolham LGBTQs em suas vidas é extremamente importante. História bastante comum e que segue se repetindo entre nós. Já adolescente, agora Chiron, é um jovem reprimido, que anda sempre de cabeça baixa e está constantemente triste. Além de ter que lidar com o vício da mãe, segue sofrendo bullying dos colegas da escola e tudo isso junto transforma a vida do jovem em um verdadeiro inferno. Depois de dois fatos importantes na adolescência, o vemos adulto, agora com o apelido de Black. Black é, em grande parte, resultado de tudo o que passou nos seus primeiros anos de vida. Introspectivo e solitário. É um filme para refletir como os primeiros anos das nossas vidas são importantes (mas não definitivos!) para o que nos tornamos como adultos e, também, como educação sexual para crianças e adolescentes deve ser pensada com mais empenho. 

"O Jogo da Imitação" (2014)
Alan Turing foi um dos responsáveis por diminuir a 2ª Guerra Mundial em (estima-se) dois anos e poupar a vida de aproximadamente 14 milhões de pessoas. Apesar das polêmicas em relação ao roteiro e ao que realmente aconteceu na realidade uma coisa é fato: Turing foi um gênio e apesar de hoje ser considerado o pai da computação e  até receber prêmios e honrarias do governo britânico, em vida, comeu o pão que o diabo amassou por ser homossexual. Condenado por "indecência brutal" ao assumir um relacionamento com outro homem, Turing teve duas opções: ir para a cadeia ou viver em prisão condicional, contanto que se submetesse a um coquetel de remédios que diminuíram seu libido e, automaticamente, "seu crime". Não pôde mais ir aos EUA e foi permitido apenas de trabalhar no meio acadêmico. Acabou se suicidando. Disponível no Prime Video.

"O Segredo de Brokeback Mountain" (2005)
Depois de ter ficado bastante popular na sua época, muitas pessoas viraram o nariz para o filme. A maioria das justificativas eram "é uma história de amor, só que com dois homens".  Ok! É uma história de amor entre dois homens mas é muito mais que isso. É a história de dois homens que sofrem pressões internas e externas para entregar a sociedade o que dizem "ser um homem". O preconceito fortíssimo presente no filme abre espaço para inúmeras discussões. A forma como o personagem Ennis viu um homossexual ser morto por ser o que era quando criança e o que isso fez com a cabeça dele criança e como os resquícios disso se arrastaram até sua vida adulta é um exemplo. Outro exemplo é a forma como Jack é morto e como a história é contada e tratada. É um filme bonito e romântico, com uma trilha linda mas também extremamente triste. Disponível na Netflix.

"Paris Is Burning" (1990)
Um lugar onde se pode ser o que se é e enfim ter uma alívio da vida de preconceitos nas ruas. "Paris Is Burning" é um clássico LGBTQIA+ e mostra o mundo dos bailes que rolou na Nova York dos anos 80. Eram neles que gays, lésbicas, travestis, drags e quem mais quisesse aparecer competiam em categoria de desfiles desde de "rainha do baile" até "trabalhador da Wall Street". O legal do filme é ver como todos os LGBTQIA+ antecedentes a todos nós foram extremamente corajosos e destemidos a bancarem que queriam / se sentiam ser e hoje, para nós, a coisa é bem mais fácil. É um filme que diverte, fonte de inspiração (quase um copia e cola) para #Pose mas também muito atual e que nos faz refletir sobre como ser o que se é é um ato de resistência. 

"Retrato de Uma Jovem em Chamas" (2019)
O filme se passa em 1770 mas muitos tópicos são atuais e o maior e mais importante deles é como as mulheres são as maiores vítimas do machismo e isso se estende até hoje. Lésbicas então, nem se fala. Sem querer se casar com o desconhecido que lhe foi prometido, Héloïse se recusa a posar para qualquer pintor para que uma imagem sua seja enviada ao mesmo. Sua mãe então decide chamar uma pintora, Marianne, para se passar por acompanhante e assim fazer o trabalho. Com o tempo, a relação das duas vai crescendo e se tornando mais e mais íntima. Em determinado momento Héloïse pergunta se Marianne já pintou algum nu masculino, ela diz que não porque "se não pode pintar os que são importantes, assim nunca será importante". O romance entre as duas é criado de forma extremamente delicada e em nenhum momento elas cogitam em pelo menos tentarem ficar juntas. Como poderiam? Não é dito a palavra homosexualidade (aliás, nem sei se existia na época), relacionamento, casal ou nada parecido em nenhum momento. Elas simplesmente aproveitam aquele amor enquanto podem e depois ficam apenas as lembranças e a saudade. É um filme triste porém de beleza impressionante. Disponível no Telecine

"Sócrates" (2018)
Negro, pobre, gay e menor de idade, a saga de Sócrates já começa no filme quando o rapaz perde a mãe, seu único apoio para conseguir uma vida digna. Rejeitado pelo cunhado e pelo pai por ser gay, o jovem se vê num situação extremamente complicada de sobrevivência. Precisa mentir a idade para conseguir pequenos trabalhos e acaba fazendo bicos. Ao se envolver com um cara acaba se decepcionando ao descobrir que o rapaz, mesmo tendo iniciado o flerte, tem um filho e uma outra vida. É um filme extremamente duro mas ao mesmo tempo muito real e que nos faz pensar na quantidade de jovens LBGTQIA+ que passam por essa mesma situação desesperadora. Existem projetos que ajudam jovens que são expulsos de casa por suas orientações sexuais como o Casa 1 de São Paulo e mesmo sendo de extrema importância, não são suficientes. O Brasil é um país GIGANTESCO. Políticas públicas não seria um começo para a solução? Disponível no Telecine.

"The Normal Heart" (2014)
"Câncer gay" foi como a AIDS ficou conhecida quando a epidemia da doença começou nos EUA entre homens gays e usuários de drogas injetáveis. O filme começa com seu protagonista chegando num oasis gay onde a liberdade sexual é a palavra chave, a maioria são brancos e com rostos e corpos de modelo. Ryan Murphy deixa sua marca nesse início mas logo depois o roteiro, que é extremamente bem escrito, fala mais alto e somos convidados a refletir sobre igualdade, preconceito, governo vendo apenas o que quer ver, brigas científicas e por aí vai. Destaco a cena que o protagonista Ned briga com seu irmão porque o mesmo simplesmente não consegue admitir que os dois são pessoas iguais e também o monólogo do personagem Mickey que diz, entre outras coisas, que após anos de luta para serem quem são, agora não podem mais por conta desse "câncer" e ele chega a citar conspirações do governo tamanho desespero. É um filme forte, bonito e muito representativo por seus diálogos forte. Disponível no HBOGO.

"Uma Mulher Fantástica" (2017)
Marina é uma mulher trans que após sofrer o trauma de praticamente ver seu companheiro morrer em sua frente, sofre com constantes demonstrações de preconceito e humilhação da família do mesmo durante o período que se passa entre morte, velório e cremação. O filho diz a Marina que o pai só poderia estar louco por se envolver com "aquilo", a ex-mulher, que aparentemente se considera a atual, diz a ela que não consegue identificar o que vê quando olha para ela. Nem homem, nem mulher, uma quimera. Além de nos mostrar a falta de informação no que diz respeito as mulheres/homens trans, a necessidade de igualdade entre casais homoafetivos e héteros, o filme mostra a força da protagonista que claramente sofre mas não se deixa abater. Segue o baile. E essa é uma característica de muitos LGBTQIA+. Aqui não quero propagar positividade tóxica e acredito que quando precisamos ficar tristes, devemos ficar tristes, porém, sinto que colado a todo e qualquer LGBTQIA+ vem força e coragem, as coisas se misturam. Independente do nível da sua força e da sua coragem fique sempre atento / atenta para as mesmas continuarem vivas! Disponível no Prime Video